As controvérsias do assédio alheio
- Sofia Travassos
- 27 de fev. de 2017
- 3 min de leitura
TRIGGER WARNING: assédio; estupro.
Meninas aprendem desde uma idade jovem demais como o mundo real pode ser em uma realidade sexista. Apesar de esse fato parecer chocante ou falso para algumas pessoas, é simplesmente o claro e óbvio para qualquer um que já tenha passado pelas consequências dele.
O assédio é presente em nossas cidades em muitas formas distintas, que vão de perseguição online e cyberbullying até violência e ameaça na vida real. Por diversas razões, alguns indivíduos sentem a necessidade de fazer suas declarações ou opiniões claras, por não somente perseguindo alguém sistematicamente, mas também agressivamente.
Alguns tipos de assédio se destacam mais do que outros. Sexo não-consensual é certamente o ponto-alto, sempre debaixo do holofote.
Eles geralmente não têm preferência da idade de suas vítimas, os assediadores. Mulheres de todas as idades – de crianças a idosas – são ditas para terem um cuidado a mais quando andam sozinhas nas ruas, porque estão expostas ao “perigo dos predadores”. Mulheres vivem em constante medo de que algo aconteça com elas enquanto inocentemente passeando rua abaixo, enojadas pelos olhares não solicitados e afetadas pelos desnecessários chamados e os tais dos “elogios”, que causam indignação e irritação na maioria das vezes que são escutados. Têm medo de sair de casa sozinhas à noite porque algum psicopata possa achá-las “apetitosas” – o que pode resultar na violação de seus corpos contra as suas vontades.
O assédio não é um assunto fácil. Especialmente o estupro, no caso. Porque há aqueles que clamam que a vítima é a culpada, por “expor demais” ou “provocar os homens nas ruas”; ou que, por ser “comum demais”, não deveríamos “lutar tanto conta isso”. Porque há aqueles que berram a plenos pulmões que “o estupro é uma obra dos homens contra as mulheres, então todos os homens são culpados” ou que “todos os homens são capazes de assediar e estuprar uma mulher”.
É um tópico complicado porque não tem como a vítima ser culpada. Seres humanos não são monstros irracionais que não conseguem controlar seus sentidos e reagem na base do impulso cem por cento do tempo. “Provocante” ou não, o ser humano deveria ser capaz de reter o seu aparente “desejo” e se conter – ou pelo menos tentar ao máximo se conter.
É um tópico complicado porque generalização nunca é a chave. Não são todos os homens que são potenciais estupradores, e não se pode basear a frase “o estupro é uma obra dos homens contra as mulheres” porque há homens que são estuprados todo ano também. Na verdade, em uma pesquisa recente realizada pelo Ministério da Justiça britânico, foi observado que, em média, 12 mil homens são estuprados todo ano (contra 85 mil mulheres violentadas anualmente). Talvez seja um número significantemente menor, mas ainda são 12 mil vidas permanentemente mudadas por um ato de violência que eles não puderam evitar.
Como a raça humana evoluiu ao ponto em que carregamos pequenos computadores em nossos bolsos e exploramos o nosso Sistema Solar mais e mais a cada semana, mas ainda temos um ato tão selvagem como assédio em uma sociedade contemporânea?
A normalização do sofrimento das pessoas deve acabar o mais cedo possível, mas as pessoas em si devem chegar a um consenso com suas opiniões; se não, nada pode ser feito além de continuar brigando sobre detalhes e fatos impessoais em vez de ajudar.
Carnaval
Folia e espírito parecem ser os temas do Carnaval de todos os anos. Pode-se ver uma espécie de paz, que só pode ser encontrada no caos das ruas cheias, música ensurdecedora, suor e, é claro, pessoas. A extrovertida semana de Carnaval é conhecida por ser um curto período de tempo quando raça parece ser menos importante, quando ódio não parece existir tão proeminentemente, somente músicas, danças, bebidas e fantasias.
E então ele aparece. Na neblina da bebida ou das drogas ou da pura adrenalina e excitação, ele aparece em uma das piores formas. Ele se revela no prazer chantageado, na relação forçada ou na busca por liberação baseada na ameaça.
Sim, o Carnaval pode parecer o melhor momento para esquecer a cautela e se divertir. Mas deve-se manter em mente que, em meio ao turbilhão de cores, bebidas e pessoas, cautela pode ser o melhor amigo de qualquer um. Esteja ciente de quem está à sua volta, esteja ciente dos estranhos com quem fala. Fique de olho por algum comportamento suspeitoso – finja que é um detetive e tente ao máximo analisar as intenções de alguém. Se essas não combinam com as suas ao nível de você se sentir ameaçado, dê as costas e saia. Não tenha medo de pedir conselho ou ajuda aos seus amigos.
Se ligue. Se eduque. Se cuide.
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