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Scarlett O'Hara: uma história

  • Sofia Travassos
  • 2 de dez. de 2016
  • 5 min de leitura

Não se escapa da percepção de ninguém que o jovem millennial em geral não tem muito interesse em filmes antigos - e antigos mesmo, não venha com o seu "Star Wars" ou "10 Coisas que Odeio em Você" para cima de mim.

Nesta matéria do Le Gailhac, o clássico e épico "E o Vento Levou" toma destaque por estar em não somente uma ou duas, mas diversas listas facilmente encontradas na Internet sob o título de 'Melhores Filmes Clássicos', junto a longas como o marcante "Psicose" e o memorável "Cidadão Kane".

(ALERTA: spoilers ao longo do texto. Recomendo assistir ao filme primeiro. A não ser que você não se importe - você me inspira se esse é o seu caso.)

O filme se passa em Georgia, sul do país, durante a Guerra Civil americana. Vivien Leigh, a atriz principal, é a dona de uma das caras mais sem falhas que o mundo Hollywoodiano já deve ter visto. Sua personagem, a bela protagonista Scarlett O'Hara, tem um espírito livre, leve, espontâneo e é perfeitamente consciente de quão irresistível é aos olhos dos homens. Com vestidos vultosos, um andar gracioso e um par de olhos adoráveis, uma simples frase parece deixar todos aos seus pés.

Ao longo do filme, podemos ver a progressão de ambas, a personalidade de Scarlett e a gravidade da situação americana, à medida em que a guerra avança. O'Hara é posta por desafios e dificuldades, sofre perdas e passa fome; já no meio do filme não é mais a presunçosa jovem que costumava ser.

A trama principal do longa, contudo, são as emoções de Scarlett. No início do filme, vemos que ela é apaixonada por Ashley Wilkes, seu vizinho, e revolta-se quando descobre que ele está para se casar com a sua própria prima, Melanie Hamilton. Scarlett, então, põe-se à tarefa de conquistar seu coração. Não é necessário dizer que ela falha, e, para uma genuína variação, não é por causa da mais nova chegada na cidade, o setentrional Rhett Butler. Se afastando do clichê, Scarlett não sente atração por Rhett imediatamente - o que, de fato, difere E o Vento Levou de muitos outros filmes românticos, principalmente filmes de época.

Rhett, honesto, realista e com uma surpreendente e inabalável fé nas capacidades da southern belle, se torna um amigo, uma mão em suporte contra qualquer dificuldade que Scarlett parecesse encontrar.

(Spoiler alert: eles acabam se casando.)

A história de amor entre Rhett e Scarlett deixa diversas impressões dependendo de onde você olhe. Mas um fato não pode ser negado: Rhett é o único homem na vida inteira de Scarlett - incluindo seus dois passados maridos - que consegue igualá-la em seu próprio jogo. O'Hara constantemente se aproveitava de sua aparência, batia os cílios e ganhava o que queria; era cobiçada por qualquer um por quem ela desejasse ser cobiçada.

Rhett nunca caiu em sua armadilha. É o único que afirma com veemência a verdadeira face de Scarlett, o único que fala em voz alta o quão prejudicial a atitude gananciosa e pretensiosa que ela insiste em ter pode ser para Bonnie Blue, a filha do casal.

Apesar da história de amor contínua e todas as românticas artes nos pôsteres do filme, ele possui cenas surpreendentemente tensas e passagens um tanto quanto ativas - como o momento em que Scarlett e Rhett, junto a uma escrava e Melanie, fugiam à carroça de soldados ianques quando se depararam com um armazém em chamas. Precisavam escapar antes que o fogo atingisse várias caixas de explosivos e fizesse boom. Sucedem no final, mas por um triz.

Ou então a jornada de Scarlett de Atlanta de volta para casa. No caminho, passa por chuvas torrenciais, campos vazios e campos lotados de corpos espalhadas pelo chão. Não é o tipo de cena que alguém imaginaria em um filme como esse.

Esse longa mexe em muitas engrenagens diferentes no nosso cérebro. Ativa a diversão pelas palhaçadas de Scarlett, a ansiedade pelo desejo de saber do destino dela, a pena pelas representações de vidas perdidas, a tristeza pelas repercussões da guerra na vida da personagem. A morte de sua mãe, a negação de seu pai, a falta de comida por conta de saqueamentos ianques e a eventual perda da esperança. Ele mexe nas engrenagens e mexe com você.

Qualquer conceito explorado no filme se adapta a um contínuo jogo de 'é e não é'.

O filme é racista, a não ser quando não é: a situação escravocrata da primeira metade do filme segue um padrão famoso em filmes que dizem respeito a temas delicados como esse - suaviza, mas não ignora. Mas os atores negros, apesar de, por conta da época retratada e a época em que o filme foi filmado, terem sido levemente maltratados no set e na estreia, não foram postos ao fundo como figurantes sorridentes. A escrava Mammy, além de essencial para a história, rendeu à sua intérprete, Hattie McDaniel, o primeiro Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante concedido a uma atriz afro-americana.

O filme é sexista, a não ser quando não é: as mulheres são tratadas como objetos preciosos e delicados, submetidas a frases como 'Não é certo uma menina cavalgar com uma perna de cada lado do cavalo. É assim que os homens fazem!' ou até mesmo 'Já é perturbador o suficiente que uma mulher seja dona de um negócio.' Porém, Scarlett O'Hara e Melanie Hamilton são personagens extremamente fortes, tendo se levantado da repentina pobreza e se colocado em altos postos da sociedade, passado por tudo que passaram sem desistirem ou enlouquecerem. Rhett Butler uma vez ou outra diminui Scarlett, mas ele mesmo enfatiza como a admira por sua firmeza, audácia e inteligência.

No final do filme, não sabemos se Scarlett consegue ou não reencontrar Rhett ao voltar para Tara, ser verdadeiro lar. É de quebrar o coração como ela percebe que seu amor por Ashley era não somente em vão, porém quase que bobo; e que quem realmente ama é Rhett. Mas é igualmente destruidor quando percebemos que Rhett havia sido emocionalmente machucado pela situação inteira vezes demais para continuar nela. É visível que ele vai embora para preservar o pouco de si que lhe resta, principalmente depois de tudo que passou, ambos com e sem Scarlett.

Tanta coisa acontece na história, é difícil aceitar que é tudo um filme só. É tanto desenvolvimento, tanta história, tanto acontecimento, e tudo tão bem contado que é improvável que você se perca.

Que o filme é bom, não há dúvidas; com certeza assistiria de novo. Mas que é longo... definitivamente. Então agarrem seus potes de pipoca - ou sementes de abóbora para quem não curte (que tem quase o mesmo gosto #ficaadica) - e se sentem bem no sofá, porque vocês se perderão na história de Scarlett O'Hara por quase três horas. Mas não se preocupe: eu prometo que vale a pena.

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